Sem dúvida que uma das mais desbocadas tiradas da recente silly season terá sido a que Luís Filipe Menezes proferiu para justificar o cancelamento do concerto de Tony Carreira agendado para inaugurar – com a pompa e circunstância que eleições à porta merecem - o pavilhão municipal de Oliveira do Douro. Neste acto de desplante público de usufruto simultâneo da sua dupla capacidade de Presidente em exercício da Câmara Municipal de Gaia e de candidato à Câmara Municipal do Porto, Filipe Menezes descaradamente considerou não ser «eticamente enxuto» patrocinar tal evento em vésperas de eleições municipais, não fosse o povo confundir o trabalho da autarquia com a actividade do candidato (à Câmara do outro lado do rio).
Não fosse esta frase proferida por um dos políticos mais ‘molhados’ da nossa praça, um dos tais que colocou a ética na gaveta quando – circunvagando deliberadamente a Lei - decidiu concorrer a mais um mandato como Presidente de Câmara e até poderíamos estar perante um caso digno de registo. Mas como infelizmente o intuito de tal intervenção foi de exclusivo alcance eleitoralista, as palavras de Menezes não só manifestam o total desprezo e desdém que o ex-líder do PSD tem para com o seu eleitorado mas recordam-nos que, de facto, a qualidade da nossa democracia, e em especial do nosso sistema partidário, se encontra muito debilitada.
Aliás, tais palavras de gozo não se encontram muito distantes das decretadas pelo Primeiro-Ministro no seu mais recente ataque ao Tribunal Constitucional, pois o que o actual líder do PSD procurou – ao apelar ao «bom senso» dos seus juízes - não foi mais que colocar-se, enxuto, num patamar ético superior em relação a quem procura, apenas, verificar que as leis emanadas dos principais órgãos legislativos são validadas pelo nosso texto constitucional. Bem sabemos que Passos Coelho – decerto convencido de todo o seu bom senso quando decidiu apresentar mais um diploma que foge à boa apreciação da Constituição – entende estar no nosso texto fundamental o seu principal adversário à desejada reforma (leia-se destruição) do Estado. Já o referiu, aliás, diversas vezes. Mas como sempre que um diploma emanado de São Bento é chumbado pelo Tribunal Constitucional o Governo responde com uma birra de mais medidas de austeridade, honestamente que começo a pensar se tal não será apenas uma estratégia para se justificarem mais cortes e/ou impostos, e a reboque atingir-se não só os fundamentos constitucionais da República como apresentar os sociais-democratas como os líderes morais e éticos da tal ‘Nova República’ (liberal) que procuram promover.
E se entendo que é necessário um alargado e qualificado debate sobre a Constituição, preferiria que o mesmo a enxugasse não dos ‘vícios marxistas’ que tanto temem os nossos (Estado-dependentes) liberais, mas da excessiva dependência de um sistema partidário caduco e ‘molhadinho’ até à ponta dos cabelos. Pois necessitamos de uma democracia enxuta. Enxuta de muitos dos nossos políticos.
(publicado a 3 de Setembro 2013)
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