Tive a oportunidade de estar em Bruxelas na noite eleitoral de 2009, a convite do Partido Socialista Europeu (PES). Nessa noite ficou claro que uma das razões, entre várias, pela qual o eleitorado europeu não entendeu a proposta socialista fora a de que o PES não conseguira apresentar candidato/a comum que consubstanciasse tal alternativa. E pior, parte dos partidos socialistas europeus (como o nosso PS, o PSOE ou o Labor inglês, todos no governo), apoiavam mesmo o candidato da direita, Durão Barroso. Desta forma, como na altura referi, todo o trabalho desenvolvido esfumara-se em motivações nacionalistas, bacocas, pouco condizentes com o legado internacionalista e com a tradição europeísta dos socialistas europeus. Para mais, o PES apostara forte nessas eleições, construindo uma vigorosa rede de activistas, envolvendo académicos, sindicalistas, políticos e activistas na elaboração de um manifesto transversal, e apostando num conjunto de propostas-chave que retirassem a Europa da já sentida crise (de onde se realçava, por exemplo, a proposta de taxar as transações financeiras internacionais). Ou seja, concentrara-se esforço na construção de uma boa máquina, para a qual não só não havia consenso no piloto como parte da equipa escolhera publicamente “o outro” para manegar os destinos da União. E perdera-se uma excelente oportunidade para desenvolver o sistema partidário europeu, peça essencial para a consolidação de práticas democráticas e transparentes ao nível da União. Entretanto, o PES rapidamente anunciou (em Praga, 2009) que iria apresentar um candidato único a 2014, decidindo posteriormente que o mesmo seria eleito num processo democrático, plural e participativo. Bati-me, na altura, com muitos activistas, para a promoção de primárias internas, de forma a potenciar o debate no seio da família socialista e a envolver militantes e políticos na defesa de um projecto europeu comum que envolvesse um grupo alargado de actores (de activistas a académicos e sindicalistas) e não apenas a tradicional partidarite europeia, fixamente estagnada em Bruxelas. Esta proposta foi aceite, e nos próximos meses a Europa assistirá ao processo interno de selecção do candidato do PES a Presidente da Comissão (no terreno já se encontra Martin Schulz, actual presidente do Parlamento Europeu). Trata-se, a meu ver, de um importante passo para a consolidação do patamar político europeu como uma extensão da política nacional, um momento importante para a disseminação de prácticas democráticas à complexa rede institucional europeia, e uma oportunidade para pedir contas a quem desastrosamente geriu a União nestes cinco anos. Para mais, apresentando um candidato próprio, e um programa comum defendido em simultâneo em todos os países da UE, os socialistas europeus forçarão a que, finalmente, exista um debate sério e conflituoso sobre os destinos da União (e sem conflito não existe política), obrigando a que se rompa com a letargia consensual onde encalhou a UE e se debatam e apresentem propostas alternativas concretas à política de austeridade fanaticamente seguida por Bruxelas (e Berlim). E bem precisamos deste debate.
(publicado a 29 Outubro 2013)
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