No actual circuito de prémios da industria cinematográfica um filme têm-se destacado: o Artista.
É um filme anacrónico, mudo e integralmente a preto e branco, que retracta a traumática transição dos ‘silent movies' para os ‘talkies' através do declínio de uma estrela da velha guarda - renitente em se adaptar à nova realidade - e da ascensão de uma nova vedeta - símbolo imediato da nova vaga.
Hoje, munidos de tecnologias como a cor, a alta-definição ou as 3D, não deixa de ser curioso verificar como a contemporaneidade política teima em manter no activo uma panóplia de artistas ancorados a visões passadistas e desligadas da nova realidades mundial.
E nem me refiro exclusivamente aos políticos da nossa praça, meros figurantes obedientes sem direito a fala ou a identidade governativa. Refiro-me aos que, hoje por imbecilidade e teimosia dogmática, teimam em perpectuar a insistência na implementação de mais e mais pacotes de austeridade no espaço europeu, eternizando e agudizando a crise social, cegos que estão na perseverança de modelos datados de duas cores.
Neste cenário, a cor tem vindo das chamas que percorrem a Europa desesperada e sem futuro. A Europa desempregada, atacada nos salários, nos sonhos e na qualidade de vida. A Europa pobre, vagabunda e triste. Sem força ou esperança. A Europa que não entende os porquês da persistência da crise, da falta de alternativa política viável ou da subjeção de um continente à vontade de uma senhora apenas. Essa Europa que se esconde com vergonha dos cobradores de paletó e penhora as suas jóias e pechisbeques a senhores com fato da 5ª Avenida.
Perante este pranto colectivo, os artistas da revista-pátria lusitana limitam-se a percorrer os palcos despidos do nosso horizonte, cantando sem rima promessas rompidas em cada passo trocado, rezando a todos os deuses para que não nos tomem por gregos ou por troianos, sem se darem conta que já somos, há muito, gregos e troianos, arregimentando neste caminho apenas os fieis, os tontos e os que - bem conectados - ainda tiram partido do sistema, mesmo falido como está.
E enquanto isto a "nova vaga" teima em se apresentar, refém que se encontra da impossibilidade sistémica de ser significativa, se não intervir no espaço alemão, francês ou em Bruxelas; razão evidente mas que não justifica a falta de alternativas parcelares nos países periféricos europeus, Portugal incluído. E esta nova solução terá de provir de uma nova reflexão à esquerda; uma reflexão madura, alargada e social e politicamente consistente.
O problema é que muita desta esquerda vive também o trauma da passagem aos ‘talkies', repleta que está de artistas de outras eras. Terá agora de saber construir o enquadramento que simultaneamente filtre os talentos válidos de outrora e permita o advento de novos actores, já desligados das velhas rotinas. Em França, espaço de intervenção real, Hollande tem procurado um novo caminho, de ruptura equilibrada e de transformação matricial.
Em Portugal, é urgente que Seguro liberte o PS do acordo da ‘troika' e siga estes passos, para que não corra o risco de se tornar, como o nosso primeiro-artista, em personagem muda.
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